Exposição Diálogos: obras dos artistas Mazeredo e Alceu Lisboa

O evento será no dia 31 de julho, quinta-feira, às 18 horas, no shopping da Gávea, loja 322, terceiro andar.

 

Em 1872, quando analisou a arte e a cultura gregas, em seu livro O nascimento da tragédia, o filósofo prussiano Friedrich Nietzsche criou os conceitos de apolíneo e dionisíaco, que ele considerava como duas dimensões complementares da realidade: Apolíneo é um termo que se refere ao deus Apolo, que representa a razão, a ordem, a harmonia, a beleza, a simetria e o uso da racionalidade. Dionisíaco é um termo que se refere ao deus Dionísio, que representa a loucura, o caos, a aventura, a fantasia, a desordem, a desmedida, a vontade irracional e o ilimitado. Para Nietzsche, a arte ideal seria uma combinação dessas duas forças. O pintor francês Georges Braque, que fundou o Cubismo junto com Pablo Picasso, ao perceber seu gosto pela geometrização das formas, declarou” “Amo a regra que corrige a emoção”, revelando assim sua faceta apolínea. Mas ele não demorou a perceber que não existe arte sem intensidade emocional e por isso declarou, posteriormente: “Amo a emoção que corrige a regra”… Nesta exposição na Canvas Galeria de Arte, que reúne pinturas de Alceu Lisboa Filho e esculturas de Mazeredo, estamos diante de dois artistas que se inclinam mais para as criações apolíneas, mas que também introduzem um saboroso tempero dionisíaco em seus trabalhos. Alceu trabalhou muitos anos como professor de Matemática e de Física, quando desenvolveu espontaneamente seu gosto pela ordem racional do universo, corporificado pela devoção à Geometria. Após se aposentar, aventurou-se pela pintura, plasmando nas telas retângulos, círculos e elipses, articulando poemas visuais enlaçados pela crença de que a beleza estética precisa de ordem em sua estrutura. Com o tempo, ele deu início a um processo de depuração criativa, em busca de formas essencialistas, e chegou à pureza singela das linhas retas, que Mondrian tanto amava. Mas o pintor não quis prender-se à rigidez aprisionante da linearidade e das formas geométricas básicas, e passou a trabalhar também com outro tipo de linhas, trêmulas, pulsantes, ritmadas, ou seja: dionisíacas.

“As curvas são uma expressão de liberdade”, testemunha ele, inserindo assim formas que podemos chamar de “orgânicas”, ao lado da sua expressividade geométrica. Trabalhando com cores que contrastam entre si, por serem frias e quentes, Alceu aproxima-se, pelos caminhos do cromatismo, do ideal nietzscheano de combinar Apolo com Dionísio. Por sua vez, Mazeredo concretiza no bronze uma aventura construtiva, acoplando e justapondo elementos modulares: signos da boca humana, esforço de síntese plástica que remete às ideias de conversa, beijo, enfim, de comunicação no sentido amplo da palavra, além de passar o conceito de conexão em rede.

A descoberta de um signo plástico essencialista é o resultado de uma pulsão apolínea no interior da artista. Mas a multiplicação do signo modular no espaço cria novas possibilidades, porque, dependendo do arranjo formal, o signo da boca humana também pode ser visto como asa, catavento, braço, fechadura, estrela, onda do mar, corpo humano dançando no espaço etc… Como as conexões entre os módulos são, virtualmente ilimitadas, podendo multiplicar-se em todas as direções, Mazeredo revela também o seu lado dionisíaco, em um regime de comunicação universalista através da arte. Versátil, Mazeredo domina diversos materiais escultóricos, como o bronze, a resimármore e, mais recentemente, também o ferro. No mundo das artes, ela já é artista de renome internacional.

Suas obras estão em diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro, e também nos Estados Unidos, em Portugal e na França. Conclusão: Alceu e Mazeredo satisfazem o ideal estético de Nietzsche, articulando a energia dionisíaca de maneira construtiva, no interior de estruturas apolíneas.

 

Mário Margutti

Abril de 2025